sexta-feira, fevereiro 14

Presa - Parte 3: Destinos

Quando Laura olhou em volta não conseguia distinguir os limites das paredes, a brancura quase que a cegava. Estava um homem sentado do outro lado da sala, e assim que a viu mexer a cabeça para o ver melhor, ele levantou-se e pressionou um botão junto à porta, aproximou-se dela e perguntou-lhe: - Sabe onde está? – Laura abanou a cabeça em sinal de ignorância e o homem não respondeu à sua própria pergunta. Mais tarde Laura percebeu que estava interdita de ver familiares, amigos ou qualquer outra pessoa do mundo exterior. Estava presa num hospício e desta vez o diagnóstico era esquizofrenia. Aos olhos do mundo Laura tinha tentado assassinar o marido e depois tentado o suicídio, por mais que negasse ninguém acreditava numa única palavra que cruzasse os seus lábios, o mundo estava do lado do dinheiro, e não do lado da justiça. Esteve largos meses fechada num quarto, foi avaliada por psiquiatras, juízes e advogados, e nenhum deles parecia ter dúvidas de que estava louca.

Após um ano de internamento Laura teve permissão para sair do quarto e ir à sala de convívio, não conseguir andar sem ser com a ajuda de uma cadeira de rodas, ouvia vozes que ecoavam na sua mente e via vultos durante toda a noite, o seu corpo estava a enfraquecer e a sua mente a esmorecer. A primeira reação que teve quando saiu foi seguir a claridade da janela e observar a luz do sol, os quentes raios aqueciam-lhe a pele e feriam-lhe a vista, mas aquela luminosidade fazia-a terrivelmente feliz. Esteve durante longos minutos em frente à janela gradeada, de repente ouviu passos aproximarem-se dela. – Olá! És nova aqui? – Laura baixou a cabeça e fechou os olhos, conseguia-se ouvir os seus sussurros: - Ele não é real! Ele não é real! Concentra-te! Ele não é real! – O homem fitou-a e respondeu aos sussurros: - Gabriel! Muito prazer! – Laura olhou para ele com os olhos cobertos de volumosas lágrimas, e perguntou: - Como é que eu sei que és real? – O homem sorriu de forma sarcástica e respondeu: - Essa é a parte engraçada de ser maluco… É que nunca se sabe o que é ficção! – Laura percebeu a ironia na voz dele, mas não se conseguia rir, essa era uma memória longínqua e perdida no tempo. Gabriel estava desiludido por não ter surtido efeito na mulher que ele achava que precisava de sorrir. – Bem, o meu humor é demasiado negro. – Conforme respondeu ao olhar entristecido de Laura, ele sorriu e voltou a caminhar. Laura fechou os olhos com uma enorme força e reabriu-os, Gabriel tinha desaparecido. Seria ele imaginário?