domingo, fevereiro 16

Her

A des/materialização do amor.

O realizador de Where the Wild Things Are, Spike Jonze, supera as expectativas e consegue apresentar-nos um magistral filme, com uma temática que apesar de explorada até às mais ínfimas consequências, chega-nos de uma forma original e profunda.
Esta é a história de amor entre um sistema operativo e um homem sonhador, exigente e solitário. A narrativa é profunda, provocante, envolvente e cativante, conseguimos ter um argumento que atinge níveis de perfeição tão intensos que as palavras não precisam de envolvimento musical. Por outro lado, temos uma banda-sonora que raramente precisa de palavras para suscitar arrepios. Temos a fusão perfeita, sempre nos momentos certos. A fotografia é atrevida e intimista, com momentos de uma profundidade única.
O filme tem um carácter muito próprio, pertence ao futuro, mas apresenta um guarda-roupa dos anos 50, mais outra combinação pouco usual mas que resulta perfeitamente.
A solidão tem vindo a ser explorada nos últimos anos em diversos filmes, especialmente em dramas. A troca das relações humanas por tecnologias de ponta não é uma novidade para todos nós, o que se torna verdadeiramente interessante neste filme é que não existe um ser humano do outro lado do auricular, é o grau de envolvimento que poderemos vir a ter com este tipo de "máquinas". A verdade é que as pessoas são imperfeitas, rabugentas, sensíveis, irritantes, monótonas, egoístas, enfim um sem número de coisas que podem conduzir alguém à completa loucura emocional. E se nos fosse dada a oportunidade de construir alguém à nossa imagem, alguém que fosse exactamente aquilo que nós precisamos, quando precisamos e especialmente quando queremos? É esse desejo que alimenta a paixão crescente que vamos sentindo e, é essa paixão que se torna um amor incondicional. Mas será uma máquina capaz de amar tão profundamente? Essa é a questão que o filme vem resolver. Her revela-nos que a ausência física pode ser um problema, mas com certeza que não é o problema.
Joaquin Phoenix estabelece uma relação sensual e romântica com Scarlett Johansson de uma forma absolutamente impressionante, as vozes dos actores completam-se e envolvem-se como por magia. E ao longo do tempo Phoenix consegue preencher a tela, sozinho, com a sua presença fenomenal.
Uma história de amor igual a tantas outras, com uma tamanha profundidade de sons e cores, que ultrapassa obstáculos e desenhas caminhos. 
Sem dúvida um dos melhores do ano...