segunda-feira, dezembro 2

Dupla Identidade - Parte 4: Traição

Eva era fria, calculista e solitária, raramente se deixava impressionar e dificilmente alguém a via apaixonar-se. Fazia parte de uma complexa rede de tráfico de diamantes, ela era a primeira mulher a liderar um esquema como este, tinha uma ourivesaria onde vendia as pedras preciosas que traficava, tinha homens e mulheres a trabalhar para ela. Eva dedicava-se simplesmente a desenhar as peças que vendia e a ordenar a sua elaboração. Por muito que a policia a tentasse apanhar, parecia impossível construir uma teia em que Eva caísse. Vivia numa penthouse com piscina no interior da casa, onde tinha vista para a cidade inteira, vivia sozinha, apenas tinha uma amiga e não confiava em ninguém.

Todas as manhãs Eva ia tomar um chá de gengibre e hortelã ao café mais próximo da sua casa, quando chegava sentava-se no balcão e lia a sua revista Vogue, num dia enublado de inverno um homem sentou-se ao seu lado, muito próximo dela, quase a tocá-la, fitou-o incomodada com a atitude do homem de olhos azuis, que pareciam pouco cortês e que ignoravam a palavra cavalheirismo. – Importa-se de me dar um pouco mais de espaço. – Arrependido, o homem afastou-se de imediato e pediu um café curto sem açúcar. Eva continuou a ler a sua revista, e o homem abordou-a: - Costuma vir aqui muitas vezes? – Eva fitou-o de baixo para cima, aproximou-se dele, e respondeu: - Sabe muito bem que sim, inspector Alfredo. – A voz da mulher ecoou nos ouvidos dele, como era possível ela estar ciente da sua identidade? No seio dos seus confusos pensamentos Alfredo paralisou, e Eva fechou a revista que estava a ler. – Sou a melhor amiga da sua namorada. Acha mesmo que eu, eventualmente, não iria conhecê-lo? Ou melhor, acha que eu não iria perceber, porque razão se aproximou dela? – Os olhos negros de Eva eram sensuais e ameaçadores, não tinham medo nem respeito, eram criminosos e astutos, e ao mesmo tempo intimidavam o infantil e desesperado olhar de Alfredo, que continuou petrificado com a perspicácia da mulher. Eva prosseguiu o monólogo que se viria a tornar diálogo: - Tenho uma proposta para si… - Alfredo sentiu-se ofendido: - Nem pense que farei negócio consigo! Nunca! – Eva sorriu e pegou na chávena de chá, deu um gole lento e pausado, pousou vagarosa e sensualmente a chávena, e disse: - Todos os homens têm um preço. Deixe-me dizer-lhe que já descobri o seu. – Alfredo sentiu-se novamente incomodado e levantou-se num ápice, respondendo abruptamente: - Eu não sou um homem qualquer! – Bebeu o café rapidamente, despediu-se da mulher e saiu do café. Estava a caminhar no passeio até ao carro e começou a ficar com tonturas, chegando junto do veículo apoiou-se, as pernas começaram a fraquejar. Dois homens apareceram e agarraram-no debaixo dos braços, sentiu o mundo a girar, e viu uns sapatos de salto agulha pararem à sua frente, uma mão suave e fria levantou o seu queixo e os lábios perfumados e rosados de Eva disseram: - Vamos então falar de negócios. – Tudo ficou negro, e em breve, a escuridão daria lugar ao desejo.