quinta-feira, agosto 1

O Maravilhoso Mundo do Absurdo - Parte 1

Era uma vez uma ampulheta, uma ampulheta que estava no cume de uma montanha nas masmorras de um castelo mas, não era um castelo qualquer, era o palácio do reino de Dominus, um reino onde o impossível era provável e o provável impossível. A rainha era chama por Caeruleõ, pela sua obsessão pela cor azul, era uma mulher esbelta, elegante, alta e de uma brancura doentia, os seus olhos eram cor de cereja, tão vivos e aos mesmo tempo desprovidos de alegria. A rainha sofria de dupla personalidade, tanto podia ser generosa como deplorável instantes mais tarde. O seu povo oscilava entre cães e gatos falantes, passando por flores estupidamente tagarelas e até mesmo arbustos amargamente mal humorados. Também tinha humanos entre os seus plebeus contudo, a rainha tentava manter esta espécie bem distante, pois muitos deles ambicionavam o seu lugar, não eram poucos estes ladrões de coroas, e muitos desejavam pedir a mão da sua bela filha Éter. A princesa acabava de completar o seu décimo oitavo aniversário, dezoito anos que não se notavam, a rapariga parecia ter apenas catorze ou quinze anos, herdara da mãe a altura e a brancura, os seus cabelos negros contrastavam com os seus olhos amarelos, que herdara da avó, a personalidade pertencia ao pai. A rapariga não queria ser rainha mas, a hora aproximava-se, cinco horas era tudo o que restava do seu tempo de princesa, tornar-se-ia brevemente na mulher mais poderosa de Dominus, herdaria os poder material da mãe e os poderes mágicos do quinto elemento, o éter. Herdaria este poder devido ao alinhamento de dois planetas que assombravam o seu reino Sistirus e Nevidis, na cerimónia de sucessão ao trono iriam emergir os poderes que todas as gerações anteriores ambicionavam.
Éter era a escolhida, a prometida mas, não era isso que ela queria, a princesa queria sair de Dominus, queria fugir para longe do reino, talvez para Darnatus, a terra das sombras, ou para Luminatus, a terra da luz. Dominus não era o seu lugar, Dominus não tinha um principio, não pertencia à luz ou à escuridão, e isso perturbava-a. Éter queria ter o poder de escolha, algo que não conseguia fazer no local onde vivia, todos ali pareciam indecisos ninguém era bom nem mau, todos estavam no intermédio das decisões. O médico real chegou a consultar Éter diversas vezes devido à sua insistência na questão e chegara a pensar que a princesa havia enlouquecido, ideia que foi imediatamente alterada pela sua indecisão.
Éter tinha um amigo, um homem especial e diferente, não era indeciso, o seu nome era Insanis, que significava o Louco, o povo chamava-o assim porque ele acreditava na existência de um mundo comum, Merinder, ao qual pertenciam os reinos de DominusDarnatus e Luminatus, que a população dizia não existirem, mas o Louco viajara por lá com a ampulheta amaldiçoada, aquela que a rainha lhe retirou. O Louco só conseguia dizer a verdade e por isso estava destinado a ser prisioneiro para todos o sempre, pois só seria libertado se negasse a existência de tais reinos. Éter visitava-o todos os dias e falara com ele sobre os três mundos. Horas antes da sua coroação Éter voltou a visitar Insanis e chegando junto da sua cela disse:
- Como posso eu escapar disto?
O Louco olhou-a com os seus olhos cansados cor de caramelo, e disse:
- Para chegar à porta tem de caminhar nos degraus. Coloque este anel e pronuncie três vezes, Nunc.
- Nunc?
- Sim...
- Porquê três vezes?
- Três mundos três vezes! E lembre-se princesa, uma volta para Dominus, duas para Luminatus e três para Darnatus!
A princesa olhou-o confusa:
- Voltas aonde?
O Louco sorriu e olho-a com ternura:
- Saberá no devido momento...
Éter pôs o anel e disse com convicção:
- Nunc! Nunc! Nunc!
Tudo à sua volta começou a girar a uma velocidade astronómica, fechou os olhos e protegeu a cara com os braços, quando finalmente parou de girar, olhou em seu redor e estava numa sala escura, húmida e minúscula, a única coisa de se via era uma ampulheta iluminada por um milimétrico buraco na parede.

Pequena Histórias Originais - Catarina R.P.