Estou prestes a terminar um curso que me vai abrir portas para um
mercado de trabalho que exige responsabilidade e dedicação, e que oferece uma
estabilidade delicada mas, ainda algo segura, falo da saúde. Para trás ficam as
aspirações de artista, o sonho de construir um futuro em comunhão com a
natureza, o sonho de querer percorrer o mundo com uma câmara de filmar nas
mãos, rabiscando memórias do presente, sem qualquer pensamento no futuro.
Na minha vida sonho poder nadar sem restrições de tempo, quero poder
escrever numa à mão ou à máquina, filmar momentos únicos e dançar em locais
virgens, sem homens para destruir as suas virtudes.
Quero percorrer a India sem que me digam para onde ir, mas que me
acompanhem numa viagem espiritual, procurando mistério e descobrindo aventuras.
Aspiro caminhar descalça nas florestas irlandesas, sentindo a trovoada a pulsar
nas minhas veias e a chuva na minha face pálida. Depois de explorar a natureza
no seu estado mais puro, desejo caminhar nas ruas de Paris e ler algum bilhete
deixado num vidro embaciado ou num livro velho com as palavras: Je t’aime. Ainda assim sonho ir à terra de sua majestade agarrar furiosamente num microfone e soltar a voz da minha alma, num recinto apilhado de pessoas alegres.
Desejo criar algo meu, partilhar com o mundo as minhas criações, impedir que
elas morram em mim, continuar a ser a criança que sempre fui, para que a minha
imaginação nunca morra.
Nasci no país dos descobridores, cresci na ânsia de descobrir, hoje com
vinte e um anos descubro que escolhi o caminho errado, que morri antes de ter
vivido.
Ainda assim assumo a minha escolha, vivo na minha realidade, mas sempre
com os olhos postos na ficção, porque um dia vou realizar o sonho.